dezembro 24, 2015

CHICO BUARQUE: sobre a "intolerância" na direita e na esquerda. POR Luiz Oliveira E Silva; com um comentário de Chico Buarque

PICICA: "“Já vivi o suficiente para perceber que a diferença engendra ódio.”
Esta frase de Stendhal, que Nietzsche gostava de citar, serve, aqui, de epígrafe ao comentário que segue, que trata do que se costuma chamar de “intolerância”, tanto na direita quanto na esquerda. "Intolerância" aqui designa aquela ação que, em última instância, almeja a unanimidade e, por consequência, odeia a diferença."

CHICO BUAQUE: sobre a "intolerância" na direita e na esquerda
 

1. “Já vivi o suficiente para perceber que a diferença engendra ódio.”
 

2. Esta frase de Stendhal, que Nietzsche gostava de citar, serve, aqui, de epígrafe ao comentário que segue, que trata do que se costuma chamar de “intolerância”, tanto na direita quanto na esquerda. "Intolerância" aqui designa aquela ação que, em última instância, almeja a unanimidade e, por consequência, odeia a diferença.
 

3. Escrevo motivado pelos comentários de Luis Carlos Lima, de Eneraldo Carneiro, de Venicio Fonseca, dentre outros, à minha postagem “PERGUNTA”, de ontem.
 

4. Naquela postagem, o meu interesse era indagar sobre os afetos e os valores que moveram os que dirigiram interpelações a Chico Buarque, na saída de um restaurante no Leblon, zona sul do Rio.
 

5. Desde que fiz conhecimento da filosofia de Spinoza e Nietzsche, tomei como critério de avaliação, a respeito da obra ou da ação humanas, a indagação sobre os afetos e os valores promotores da obra ou da ação em questão.

6. Com Spinoza aprendi que há afetos potencializadores da vida (isto é, as “paixões alegres”, tais como o amor, a generosidade etc.), frutos dos bons encontros, e afetos despotencializadores da vida (isto é, as “paixões tristes”, tais como o ódio, a mesquinharia etc.), frutos dos maus encontros.
 

7. Com Nietzsche aprendi a ver os valores como criadores de realidade na sua irrevogável aliança com os afetos, afetos que leio na chave de Spinoza.

8. Ou seja, a partir de Spinoza e Nietzsche (e de Marx, de Freud, de Heidegger, de Deleuze etc.) passei a ver as coisas pelo que gosto de chamar de hermenêutica dos afetos e dos valores.


9. Por exemplo, no caso específico das interpelações a Chico, como avaliar a ação dos que abordaram o artista?


10. Resposta: pela indagação a cerca dos afetos e dos valores que moveram e promoveram a ação daqueles jovens.


11. Numa hermenêutica dos afetos e dos valores cabe então perguntar pela natureza dos afetos e dos valores promotores da ação.


12. Foram paixões alegres ou tristes que estiveram por trás daquela ação?


13. Foram valores afirmadores de uma vida com maior ou com menor potência?


14. Eu, cá com meus botões, estou convencido de que as ações agressivas da direita estão, em geral, comprometidas com paixões tristes e com valores despontencializadores da vida.


15. É desta forma que eu justifico a minha posição de esquerda e, por consequência, a minha oposição à direita.


16. Para mim, a ação da esquerda deve estar sempre (e necessariamente) comprometida com as paixões alegres e com os valores potencializadores da vida.


17. Por definição, a meu ver.


18. Por isto, considero que a “intolerância” (aquela ação que, em última instância, almeja a unanimidade) é parte integrante do ideário da direita.


19. Contudo, não há como negar que também haja “intolerância” na esquerda.


20. A diferença engendra ódio não apenas na direita. Tomemos dois exemplos próximos.


21. Exemplo 1. Pelo fato de eu ser crítico do PT e do governo, pela esquerda, alguns amigos petistas mal conseguem disfarçar o seu desconforto quando me veem. Além de me agredirem de público ou aqui no facebook.


22. Também a esses, a diferença engendra ódio. Esses só se sentem confortáveis e seguros em meio à unanimidade.


23. Exemplo 2. Pelo fato de eu não ser antipetista, muitos da esquerda antipetista me agridem com desqualificações as mais variadas.


24. Também a esses, a diferença engendra ódio. Também esses só se sentem confortáveis e seguros em meio à unanimidade.


25. Contudo, não vejo como não considerar que ambos os fundamentalismos, digamos assim (seja o do petistismo, seja o do antipetismo), são, na esquerda, deformações.


26. Se considerarmos que, como dito acima, a ação da esquerda deve estar sempre comprometida com as paixões alegres e com os valores potencializadores da vida, o ódio à diferença é, necessariamente, na esquerda, uma aberração.


27. Esquerda que odeia a diferença deve ser considerada uma contradição em termos. Pelo menos, assim deveria ser, segundo me parece.


28. O mesmo não pode se dizer da direita.


29. Por fazer parte integrante do seu ideário, a “intolerância” (que, em última instância, almeja a unanimidade) na direita, não é uma deformação.


30. Sem “intolerância” (que, em última instância, almeja a unanimidade) há e sempre deve haver esquerda.


31. Sem esta “intolerância”, dificilmente haverá direita.


32. Falo da direita realmente existente, e não de quimeras que só existem na cabeça de alguns liberais bem intencionados.


33. Falo da esquerda libertária, e não daquela burocrática que vive mamando nas tetas dos podres poderes...


Fonte: Luis Oliveira E Silva

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