fevereiro 21, 2016

A discussão sobre moral no filme In Bruges. Por Renato Bakanovas (OBVIOUS)

PICICA: "In Bruges (Na mira do Chefe) é uma narrativa sobre moralidade no séc. XXI." 



A discussão sobre moral no filme In Bruges


In Bruges (Na mira do Chefe) é uma narrativa sobre moralidade no séc. XXI.

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No filme, Ken (Brendan Gleeson) e Ray (Colin Farrell) são enviados a cidade belga de Bruges, após um trabalho mal sucedido. Descobrimos que Ray, o assassino mais jovem, em seu primeiro trabalho, acidentalmente, matou uma criança. Ambos são enviados a cidade enquanto aguardam a decisão do chefe Harry (Ralph Fiennes) em relação ao trabalho mal sucedido de Ray. 

Ray parece sofrer profundamente pelo resultado de sua ação, que acabou resultando na morte de uma criança. Em dado momento do filme diz: "Devido as escolhas que fiz, e o curso que coloquei em ação, uma criança não está mais aqui. E nunca mais estará.. digo aqui no mundo. Não na Bélgica" 

Essa linha final ("digo aqui no mundo. Não na Bélgica"), parece funcionar como um alivio cômico dentro do filme com um humor negro bem particular, mas é crucial para mensagem principal do diretor Martin McDonagh: a moral atualmente é construída por meio de discursos e não proveniente de algo transcendental e longe do homem. Em vários momentos do filme, os personagens são forçados a discutir sobre suas preferencias morais analisando justamente discursos. No mundo atual aquilo que consideramos moral provém das estruturas de linguagem, e só conseguimos extrair nossas bases morais fundamentais a partir disso. Todos temos que construir nossa moral, nada é dado para nós; a sociedade de consumo e liberal atual pressupõe que as pessoas são livres, e que a liberdade é um direito inalienável. Mas essa sociedade livre tem um custo: cada um tem que aprender a viver com as escolhas que faz. 

O sofrimento de Ray serve como uma metáfora para uma espécie de sofrimento do mundo moderno. A sociedade ocidental passou vários séculos com um rígido código moral, fundado pela Igreja Católica; quando se é criado a partir de uma moral religiosa, as lições sobre penitência, certo e errado, pecados, de uma certa maneira, nunca te abandonam completamente. Isso acontece em um nível individual, mas também a um nível macrossocial. A sociedade ocidental moderna ainda é uma transição entre a moralidade divina e uma moralidade construída por humanos. 

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Bruges é uma cidade medieval na Bélgica, que em meio a suas construções góticas, se impõe como uma espécie de simbolo de uma época antiga. O processo de secularização da sociedade, ou desencantamento do mundo como Max Webber vai colocar, contribuiu para enfraquecer um dos pilares da moralidade por muitos séculos: à Igreja Católica.

Para fazer um paralelo entre a moralidade rígida e "pós moderna" - uso o termo no sentido de diluições das verdades, como diz Jean-François Lyotard, em O pós-moderno - a figura do chefe Harry entra em cena. Ele acima de tudo tem um padrão moral rígido, e o diretor o apresenta como o personagem mais cruel e inflexível do filme. Além disso, é aquele que aprecia mais falar sobre seu padrão moral, nesse sentido aparenta sentir-se confortável com sua moral e a conduta. Suas ações são baseadas em uma relação de causa e efeito, e quando percebe cometer uma ação contraria a sua moral, não hesita em praticar aquilo que pregou (como por exemplo na cena final).

Martin McDonagh é um diretor interessado no mundo "pós moderno", e nesse trabalho não é diferente. Discute questões como religião, peso da história e moralidade. Para aqueles que se interessaram, recomendo o filme em si, e também recomendo o vídeo abaixo, do canal The Nerd Writer que me basei inteiramente para construção deste texto. 




Renato Bakanovas

observando as formas de expressão do ser humano.

Fonte: OBVIOUS

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