fevereiro 15, 2016

Etherutopia – Pedro Dotto (RAZÃO INADEQUADA)

PICICA: "Embasbacado diante da confluência multirrítmica de
Barro, volúpia e mel
Deus
– artista incompreendido e atormentado ,
figura escabrosa e graciosamente só –
Enfastiado de tanto brincar nos abismos
Do seu ateliê celeste
Ao mesmo tempo em que jubiloso pela
Beatitude carnal daquilo que se conhecia como Humanidade
Resolve convidar o Diabo,
Seu companheiro de longa data,
Irmão de desaforos, desavenças e discórdias,
Cúmplice nas intrigas agrestes que entrançam
A desventurosa trama humana
Para uma amistosa partida de cartas.


Etherutopia – Pedro Dotto

– Para José Celso Martinez Corrêa


Do pó, fez-se o glitter
Da poeira, purpurina.
A pólvora dos canhões encarniçados devém lantejoula.
Das cinzas dos nossos antepassados
Cremados no etherno fogo da História
Fez-se o confete
Alimento do nosso ser
Sedento de beleza e de ardência.


O Sol se rebelou contra a
Mesquinha ordem planetária dos
Frios corpos celestes que
Perfazem o Universo
E se recusou a deitar-se no horizonte distante.


Gretas esparramam-se pelo chão.
O calor fervente e estonteante
Abre fendas nas ruas e nos corpos.


O Tempo
– Inveterado fumante de partículas –
Foi abolido.
Estancado à base de cuspe de anjos
Deixou de sangrar.
Nem mais tique
nem taque.


Dionísio, mestre-sala e porta-bandeira,
Desfila em plena avenida
Magnetizando os genitais das gentes.
Encantando e seduzindo os bichos-humanos.


O ócio macunaímico foi declarado
Dever cívico irrevogável e pluriversal.
Foi inserido na recém-modelada
Constituição de Todos os Povos, Povoados e Populações
– em seu primeiro e único artigo, aliás –
(Mas, felizmente, ninguém mais liga para
essas coisas de letras e leis.)


As duras ruas da
Duracidade
Desmancham-se em um lamaçal etílico.
Novo firmamento a sustentar a Humanidade.
Em nome da carne,
O bloco da policialegria dispara
Bombas de efeito orgasmogêneo
Contra desavisados e desarmados transeuntes
Ignorantes do estado de graça e gozo
Que tomou conta de Tudo-e-Todos.



E


Embasbacado diante da confluência multirrítmica de
Barro, volúpia e mel
Deus
– artista incompreendido e atormentado ,
figura escabrosa e graciosamente só –
Enfastiado de tanto brincar nos abismos
Do seu ateliê celeste
Ao mesmo tempo em que jubiloso pela
Beatitude carnal daquilo que se conhecia como Humanidade
Resolve convidar o Diabo,
Seu companheiro de longa data,
Irmão de desaforos, desavenças e discórdias,
Cúmplice nas intrigas agrestes que entrançam
A desventurosa trama humana
Para uma amistosa partida de cartas.


Eles, que desde tempos imemoriais
Haviam se desquitado por algum fútil motivo,
Razão pequena e indigente que neste momento
Já nem se recordam
( nem vale a pena se recordar…)
Entregues que estão
Ambos
Em meio a risos, provocações e recordações
Tal como fazem velhos amigos depois de
Longos séculos apartados.


– Pedro Dotto (pmgdotto@gmail.com)

 

Fonte: Razão Inadequada

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